"Prezados colegas do Migalhas.
Para mim, as notícias e histórias que trazem sobre o Professor Goffredo nas
edições têm um valor a mais (Migalhas 2.653 - 16/6/11
- Clique aqui). E o passamento dele me pesou um bocado. Conto-lhes o
porquê. Certa vez, consultando a biblioteca da minha Faculdade de Direito da
UFMG - a famosa 'Vetusta Casa de Afonso Pena' - depois de boas horas estafantes
de estudo, resolvi procurar algo mais 'leve' para ler. Deparei-me com o livro 'A
Folha Dobrada'. Na página de rosto, uma dedicatória bastante afetuosa aos
alunos da nossa FDUFMG com uma letra bem legível, pautada e um tanto tremida.
Identifiquei a assinatura do autor. Sentei-me para ler e fiquei boas horas, até
o fechamento da biblioteca, presa às histórias ali contadas de um estudante de
Direito em outra famosa faculdade, a das Arcadas do início do século XX. Com
detalhes pitorescos, como a vez que o referido protagonista teve que deixar os
bancos escolares, como vários iguais, para lutar em prol de uma Constituição,
em 1932. Tinha um endereço de e-mail e um site indicados no livro. No dia
seguinte, passei um e-mail para o autor, dando-lhe a conhecer meus comentários
sobre a rápida e inesperada leitura. Passam-se alguns dias e recebo o recado de
um telefonema de São Paulo na recepção do pensionato onde eu morava. Fiquei
preocupada com ideias do tipo 'Meu Deus, será que ele ficou ofendido com algo ?
Não era intenção.' A moça disse que o senhor que ligou pediu para eu deixar o
meu número de celular, já que não conseguia me encontrar em minha residência.
Deixei o número, mas falei para ela pedir o telefone dele que eu retornaria.
'Já pedi !' - retrucou-me - 'Mas ele fez questão de não dar. Disse que ele é
quem devia ligar'. E, então, numa manhã, um senhor de voz já cansada,
denunciando os seus mais de 90 anos, mas muito afável, educado, chamando-me de
'Doutora Simone' fez-me conhecer que tinha ficado emocionado com minhas
'amáveis palavras' (expressão dele) sobre o livro. Lembrei-me de uma frase :
'Gratidão: a mais frágil das virtudes!' Eu tive um grande amigo, paulista, que
dizia que a 'São Paulinho' de antigamente era um charme só. Lembrava Paris em
sua arquitetura em vários pontos da cidade e, sobretudo, no jeito de as pessoas
se portarem, sobretudo umas com as outras. Era um trato muito respeitoso, sem
cerimônia, desse tipo de gente que conhece e procura conhecer outras porque o
outro tem um valor que ninguém mais tem igual.
E só por isso. Ele dizia que, infelizmente, isso estava se perdendo, esse
'espírito paulistano' de antigamente. Pois bem. Ao ter esses poucos contatos -
porque houve outros, por cartões e telefonemas - tive uma ideia bem presente do
que é esse tal 'espírito da São Paulinho' de outrora no Professor Goffredo.
Houve até fatos engraçados. Certa vez, visitando Ouro Preto, descobri que as
pessoas que propuseram que a cidade se tornasse patrimônio histórico eram
paulistas, os modernistas da Semana de 22 e, entre eles, estava, na foto, um
certo Goffredo Telles que identifiquei como sendo o Professor Goffredo. Essa
foto está no Museu da Estação em Ouro Preto. Mandei uma carta para ele
comentando o fato e ele me ligou, preocupadíssimo, querendo retificar a
informação porque não 'sou eu, não ; é meu pai'. Ou seja, além do mais, era
humilde, não se apropriava de glórias indevidas, ainda que fossem de seu falecido
pai. Queria tê-lo conhecido, pessoalmente, mas não o alcancei. Ele me pregou
uma última peça, marcando para a eternidade. Mas isso é outra história. Para os
que creem. Saudações goffredianas," Simone Cristine Araújo Lopes-
OAB/MG 97.534
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